autorretratos no novo mundo
tecido e pintura Panorama da montagem do trabalho Autorretratos no Novo Mundo 11 pinturas, sendo 4 principais e em grande formato; 4 textos emoldurados, 2 tecidos monocromos montados área total da montagem: 2,20x14metros { a montagem varia de acordo com o espaço } 2007 - 2014
“Embora muito do que está representado nessas pinturas espelhe um mundo já perdido, também nos lembra uma verdade ainda pertinente: que nos vemos e vemos os outros a partir de perspectivas contemporâneas. Este insight pode nos ajudar a questionar nossos próprios valores e julgamentos, tornando-nos mais abertos a outras perspectivas e visões de mundo.”1 1 - Introdução de Barbara Berlowicz para o catálogo da exposição “Albert Eckhout volta ao Brasil 1644-2002”
Detalhe do trabalho Autorretratos no Novo Mundo Autorretrato com Theo Isadora e Mameluca 220x175cm Texto do biólogo Luiz Emygdio Filho sobre a pintura Mulher Mameluca de Albert Eckhout - dimensão A4 Céu de cajus - pintura sobre madeira - 40cm diâmetro 2014
acrílica sobre madeira
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Autorretrato com Theo Isadora e Mameluca 220x175cm acrílica e vinílica sobe tela 2014
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Detalhe do trabalho Autorretratos no Novo Mundo Autorretrato com Isadora e India Tupi 220x175cm Texto do biólogo Luis Emygdio Filho sobre a pintura India Tupi de Albert Eckhout - dimensão A4 4 pinturas gouache sobre madeira 20x20cm cada - DESLOCAMENTO 2014
Autorretrato com Isadora e India Tupi 220x175cm acrílica e vinílica sobre tela 2014
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detalhe da montagem do trabalho AUTORRETRATOS NO NOVO MUNDO Texto de Luis Emygdio Filho (Mulher Tupi com criança) Série de pinturas na técnica gouache, título: “deslocamento”, dimensão 20x20cm cada
detalhe da montagem do trabalho AUTORRETRATOS NO NOVO MUNDO Texto de Luis Emygdio Filho (Mulher Tupi com criança) Série de pinturas na técnica gouache, título: “deslocamento”, dimensão 20x20cm cada
Detalhe do trabalho Autorretratos no Novo Mundo Autorretrato com Theo e negra 220x175cm Texto do biólogo Luiz Emygdio Filho sobre a pintura Mulher Negra de Albert Eckhout -A4 Banana Prata - pintura sobre madeira - 23x30cm tecido monocromo montado com garras de metal -20x20cm 2014
Autorretrato com Theo e negra Acrílica e vinílica sobre tela 220x175cm 2014
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detalhe da montagem Texto do biólogo Luiz Emygdio Filho sobre a pintura Mulher Negra de Albert Eckhout - A4 Banana Prata - pintura sobre madeira - 23x30cm tecido monocromo montado com garras de metal -20x20cm 2014
acrílica sobre suporte encontrado 20x30cm
Autorretrato com índia Tarairiu Acrílica e vinílica sobre tela 240x160cm 2007
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montagem
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Autorretratos no Novo Mundo
Trabalho iniciado em 2007 é uma instalação que engloba: 12 pinturas em formatos variados, reprodução de 4 textos científicos, 2 monocromos em tecido.
Proponho o projeto sobre quatro obras etnográficas de Albert Eckhout. São autorretratos: Autorretrato com Índia Tarairiu, Autorretrato com Theo e Negra, Autorretrato com Isadora e Índia Tupi e Autorretrato com filhos e Mameluca. Aproveitando o tom classificatório do bestiário humano proposto pelas pinturas, as quais falam mais da dominação holandesa no Brasil do que do próprio Brasil, produzo autorretratos incluindo meu universo íntimo, como mulher, mãe e artista. Uma proposta que trata de forma direta da história real da mulher brasileira. Trata-se da relação entre o mapeamento etnográfico pintado por um viajante estrangeiro para apresentar à corte holandesa e as pinturas contemporâneas que são o mapeamento afetivo e íntimo de uma artista do Brasil que, ao se colocar no lugar das figuras femininas retratadas, assume a porção mestiça brasileira, em que todos são um pouco índios e negros, e com essa sobreposição de significados, estereótipos e tempos proporciona um encontro com a pintura desse país.
O primeiro núcleo cultural brasileiro que se assemelhou a uma corte europeia foi fundado em Recife, em 1637, pelo conde holandês Maurício de Nassau que trouxe uma comitiva de cientistas, humanistas e artistas que produziram uma brilhante cultura profana no local. Sua presença resultou na elaboração, pelo homem branco nos trópicos, de um trabalho cultural sem paralelos em seu tempo e muito superior ao que vinha sendo realizado pelos portugueses. Seu lema “até onde o mundo alcança” mostra a extensão de sua curiosidade e intenção. Na comitiva de Nassau, estava Albert Eckhout (1610-1666), dividindo com Frans Post e Georg Marcgraf a tarefa de documentar a paisagem, a vida e os costumes dos índios e escravos. Entre seus oito clássicos e emblemáticos retratos etnográficos, Eckhout visou apresentar as mulheres do Novo Mundo: Mulher Tupi, Mulher Mameluca, Mulher Tapuia e Mulher Negra. A extensa pesquisa que se fez dessas obras gerou um rico e complexo conjunto de interpretações. Hoje se sabe que uma intrincada relação entre ideal e realidade deu origem a essas pinturas. Toda essa gênese das pinturas de Albert E., sua relação com a pintura brasileira e o gráfico hierárquico de civilidade dos habitantes do Novo Mundo que traçavam – na base menos civilizada estavam os índios canibais Tapuia, depois os Tupi e os Negros; no topo estavam o Mestiço e a Mameluca – além de diversos outros detalhes simbólicos internos e externos às pinturas, levaram-me a criar uma relação afetiva, como brasileira, com as imagens.
A proposta trata da história verídica e inventada da mulher brasileira, da relação entre o mapeamento etnográfico do gênero feminino pintado por um viajante estrangeiro e as pinturas contemporâneas que são o mapeamento afetivo e íntimo de uma jovem artista. O conceito de diluição é pertinente para essa afetiva relação, se pensarmos que as imagens das quatro mulheres propostas por Albert E. são realmente diluídas nas apropriações das minhas pinturas, ressignificadas com novas simbologias, novos ares de um “novo mundo”. A presença das crianças nas pinturas de Eckhout, seja como filhos em primeiro plano ou na fazenda, no panorama, trouxe para mim um elo entre o “presente” e o “futuro” da formação do povo brasileiro; a mãe como figura feminina principal em duas das pinturas históricas traz uma conexão afetiva muito intensa, que encarnei em minhas pinturas, apresentando meus filhos, brasileiros recentemente gerados.
As viagens ao Novo Mundo são histórias intrínsecas à realidade dos brasileiros. Nós somos parte do Novo Mundo que foi encontrado e ao mesmo tempo o perdemos para sempre. Assim, surge um outro encontro impossível: entre as pinturas de um jovem artista que viajava em um proposto e suposto Novo Mundo e as pinturas que retratam o mundo contemporâneo, feitas por uma jovem artista brasileira.
Self-portraits in the New World
This work that began in 2007 is a display that includes 12 paintings in various shapes, the reproduction of 4 scientific texts and 2 monochromes on fabric.
I propose this project based on four ethnographic works by Albert Eckhout. They are self-portraits: Self-portrait with India Tarairiu*, Self-portrait with Theo and Negra, Self-portrait with Isadora and India Tupi* and Self-portrait with children and Mameluca**. Using the tone of scientific classification from the 'human bestiary' proposed by the paintings, which speak more of the Dutch domination in Brazil rather than Brazil itself, I make self-portraits including my own private universe as a woman, mother and artist. It's a proposal that deals very directly with the actual History of the Brazilian woman. It's about the relationship between the ethnographic map painted by a foreigner artist meant to be presented before the Dutch royal court and the contemporary paintings that are an emotional and intimate mapping of a woman artist from Brazil. As she places herself as one of the feminine images portrayed, she embodies a share of Brazilian mixed races, in which everyone has a little bit of indigenous and African blood in themselves; and by juxtaposing meanings, stereotypes and eras, she creates an important connection between the paintings of the country.
The first Brazilian cultural guild that was somewhat like an European court was founded in Recife, in 1637, by the Dutch Count Maurice of Nassau, who brought a group of scientists, humanists and artists who contributed to the creation of a brilliant and profane culture in that area. His presence resulted in the production, by the white man in the tropics, of unpreceded works, of a level that was much higher than the artistic production from Portugal at that time. His motto 'as far as the world can reach' shows how great his curiosity and intentions were. Among Nassau's entourage there was Albert Eckhout (1610-1666), sharing with Franz Post and Georg Marcgraf the task of documenting the landscape, life and customs of the indigenous and enslaved peoples. Among his eight classic and emblematic ethnographic portraits, Eckhout aims at presenting the women of the New World: the Tupi* Woman, the Mameluca** Woman, the Tapuia* Woman and the Black Woman. The extensive research carried out on these works created a rich and complex set of interpretations. Today we know that these paintings have their roots in an intricate relationship between ideals and reality. The whole 'genesis' of Albert Eckhout's paintings, his relationship with Brazilian art and the hierarchic dynamic of the inhabitants of the New World depicted in his works (at the most 'uncivilized' layer of society there were the cannibal Tapuias, then the Tupis and the African people; at the top there were the Mestiços and the Mameluca) together with many other symbolic details, both internal and external to the paintings, have led me to create, as a Brazilian Woman, an affective relationship with the images.
The proposal is connected to the real and the fictional narratives about the Brazilian women, to the ethnographic mapping of their gender painted a foreign traveler, and the contemporary paintings that are a young artist`s emotional and intimate mapping of.
The concept of blending or dillution is pertinent to this affective relationship, if we think that the images of those four women presented by Eckhout are in some way dilluted or blended into my own appropriation of his work, re-signified with new symbolism, new takes from a New World. The presence of kids in Eckhout’s paintings, be it as a family’s children in the foreground or children on a farm in the background, has brought me a link between present and future in the formation of the Brazilian people - the mother as the main female character in two of the historical paintings brings an intense affective connection which I have incorporated into my own paintings where my own children are featured, young Brazilians recently brought about the world.
The travels to the New World are stories deeply connected to the reality of the Brazilian people. We are part of this New World that was found and at the same time that we lose it forever. Thus, we have another impossible encounter - between the paintings of a young artist who travelled to and around a supposedly New World and the paintings that depict our contemporary world, made by a young Brazilian artist.
*Tarairiu, Tupi and Tapuia are names for different indigenous Brazilian tribes.
** Mameluca/Mameluco - a Brazilian mestizo; specifically : the offspring of a white man and an American Indian woman (Definition by Merrieam-Webster Dictionary)